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[Illustration: EÇA DE QUEIROZ RAMALHO ORTIGÃO AS FARPAS]
Lisboa—Typ. da Empreza Litteraria Luso-Brazileira—Editora
Chronica Mensal
QUARTA SERIE No.3 JUNHO 1883
Ironia, verdadeira liberdade. És tu que me livras da ambição do poder,da escravidão dos partidos da veneração da rotina, do pedantismo dassciencias, da admiração das grandes personagens, das mistificações dapolitica, do fanatismo dos reformadores, da superstição d'este grandeuniverso, e da adoração de mim mesmo.
Carta a sua alteza real o serenissimo principe snr D. Carlos regente emnome do rei.
Rasão d'esta carta—Projecto de partida de sua alteza—Pessoas que oacompanham e pessoas que deveriam acompanhal-o. Eloquente e notavelparallelo—As instituições nacionaes e As Farpas—A educação dopríncipe. Como elles a fizeram. Como nós a aconselhamos—A instrucção desua alteza. Os seus estudos. Os seus livros. Os seus mestres. As suasconvivencias. O seu theor de vida—Intervenção de sua magestade a rainhana direcção intellectual de seu augusto filho—O príncipe, o homem, ocidadão, o alferes, o marinheiro, o conselheiro d'estado—Aviagem—Crise pedagogica—A renovação mental de sua alteza—De como opríncipe deveria proceder n'este momento supremo para dar o que deve aothrono, á familia, á sociedade e á natureza—Sua alteza porém fará o quefor servido.
E' de interesse particular mas importantissimo o assumpto que ora nostraz por meio de carta aos pés interinamente reaes de vossa alteza.
O § 28 do artigo 145 do titulo VIII da Carta Constitucional da monarchiagarante a todo o cidadão o direito de communicar por escripto com oPoder Executivo, e é d'esse direito que hoje tomamos a libertade deusar, ao abrigo da lei, aproveitando para tal fim o momento presente, emque vossa alteza é o chefe temporareo do sobredito Poder, como regentedo reino na ausencia em partes de Castella de seu augusto pae, El-Reynosso senhor, que Deus guarde por longos e dilatados annos.
Senhor, ha obra de tres para quatro meses que os papeis publicos nosderam a boa nova de que vossa alteza iria em breve completar o tirocinioda sua educação como principe, como cidadão e como ser vertebrado,correndo algumas terras e partidas do mundo, como o finado infante snr.D. Pedro, que Deus em sua santa gloria haja.
Por essa dacta, puzeram as folhas o dedo sobre os nomes de algumaspessoas, que vagamente se suppunha virem a ser chamadas para acompanharvossa alteza em sua peregrinação de estudo pratico atravez dos homens edas coisas da civilisação entre gentes extranhas.
Seguimos as indigitações da imprensa acerca do pessoal d'essa embaixadapedagogica, e sorrimo-nos entre desdenhosos e galhofeiros, poisabrigavamos a convicção indestructivel de que os redactores d'AsFarpas eram os cavalheiros naturalmente indicados pela opinião publicae pelo consenso geral da côrte para a honrosa e ardua missão de que setratava.
Effectivamente, Senhor