A filha do cabinda

PORTO--IMPRENSA PORTUGUEZA, BOMJARDIM, 181.


ALFREDO CAMPOS

A FILHA DO CABIDA

ROMANCE ORIGINAL

PORTO
EDITORES--PEIXOTO & PINTO JUNIOR
119, Rua do Almada, 123
1873

A SEUS

ILLUSTRISSIMOS E EXCELLENTISSIMOS TIOS

JOSÉ D'ALMEIDA CAMPOS

ANTÓNIO D'ALMEIDA CAMPOS E SILVA

e

JOAQUIM D'ALMEIDA CAMPOS

OFFERECE

O auctor.



Ex.mos Tios e amigos.

A «filha do cabinda» é uma recordação singellissima de muitas, queconservo, de alguns annos passados, na formosa capital do vasto Imperiodo Brazil.

Transcrevi-a do livro da minha memoria, para este que aqui vai,singello, despretencioso, sem flores e sem perfumes, unicamente nointuito de matar horas d'enfado e dias de melancholia.

Resolvido agora, e quem sabe se imprudentemente, a fazel-a correr mundo,nas azas da publicidade, lembrou-me collocar os seus nomes na primeirapagina, como pequenissima significação da muita estima e da muitagratidão, que devo a cada um.

Bem sei que muito fica da divida por saldar, mas quero, ao menos,mostrar-lhes, d'este modo, que não esqueço o muito que teem a haver dossentimentos do meu coração.

Acceitem, pois, a offerta, que é singella, e avaliem-na pela intenção enão pelo que é.

Sempre

Sobrinho amigo e agradecido

Alfredo Campos.

A FILHA DO CABINDA

A FILHA DO CABINDA

I

A filha do cabinda é formosa como a visão d'um sonho celeste; meiga comoo canto do sabiá, poisado nos galhos do cajueiro, e ingenua como avirgem da innocencia.

O cabinda é negro, e negro de raça fina, mas é branca a sua filha, efilha, porque o velho escravo quer muito á senhora moça, que ellebeijava e embalava no seu collo, quando era pequenina.

Revê-se n'ella, e n'ella se mira doido d'affeição o pobre negro, e tantoa gravou na ideia, tanto a traz no coração, que chega até a esquecer-sedo trabalho, sujeitando-se ás reprehensões do seu senhor, para,insensivelmente, se entregar a scismar n'ella, que é tão bondosa, tãomeiga e tão carinhosa para elle; n'ella, que, por uma destas illusões,d'estas miragens, d'estas doidices, d'um grande affecto e d'uma vivasympathia, chega a julgar realmente sua filha.

E filha do cabinda lhe chama elle.

O negro vivia na sua terra, alegre e feliz; lá tinha seus paes, a suacompanheira, os filhos e a sua familia.

Um dia, não sabe como, achou-se com todos elles dentro d'um navio, quecomeçou a affastal-o, cada vez mais, da sua patria. Passou assim algumtempo, entre as duas immensidões, o mar e o céo, sem sentir saudades dasua terra, porque levava ainda ao seu lado aquelles que lhe davamalegria. Depois, pozeram-o de novo em terra, levaram-o a elle e aos seuscompanheiros para uma grande casa, onde os brancos começaram a disputaro preço por que haviam de compral-os.

O cabinda foi vendido e quizeram leval-o.

Leval-o? E a sua companheira? e os filhos? e seus paes?

Esses, foram vendidos tambem, e cada um a seu senhor.

Tristissimo era o negocio da escravidão!

Reagiu o negro, quando o quizeram separar dos seus, e quando tambem osseparavam d'elle.

Teve, então, saudades da sua patria, terriveis, sem duvida, porque eram,ao mesmo tempo, saudades da sua liberdade.

Fizeram-lhe, porém, estancar as lagrimas angustiosas as ameaças d'umaçoite, e o Cabinda lá partiu, sem esperanças de tornar a vêr os filhosqueridos, que nem sequer beijara na despedida, a esposa, que elleadorava com um culto rude, mas sincero, e os paes, que elle respeitavacom a sua

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