AS FARPAS

EÇA DE QUEIROZ—RAMALHO ORTIGÃO

Chronica Mensal

DA POLITICA DAS LETRAS E DOS COSTUMES

QUARTA SERIE N.º 1

JUNHO A JULHO 1882


Ironia, verdadeira liberdade! És tu que me livras da ambição de poder, da escravidão dos partidos da veneração da rotina, do pedantismo das grandes personagens, das mystificações da politica, do fanatismo dos reformadores, da superstição d'este grande universo, e da adoração de mim mesmo.

P.J. PROUDHON


SUMMARIO

A patria portuguesa e os quatro milhões d'egoismos de que ella consta—Presente estado das ideias—A religião—A politica—A moral—A arte—Sentido historico do centenario deCamões, sua influencia e seus resultados—Dois annos depois—A celebração do centenario do Marquez de Pombal considerada como symptoma psychologico—Do estadista em geral e do Marquez em particular—Addusem-se razões e testemunhos insuspeitos para o fim de provar que o estadista é um agente secundario entre os acceleradores do progresso, e que o Marquez de Pombal é um individuo secundario na classe dos estadistas—Buckle, Guizot, Bastiat, Begehot, Herbert Spencer, Wechniakoff, Auguste Comte, Michel Chevalier, e outros—Demonstra-se que o Marquez de Pombal exprime a negação de tudo aquillo que a liberdade affirma e que a democracia proclama—Coerção da agricultura, coerção da industria, coerção do commercio, coerção dos direitos civis, coerção do pensamento—Arruamento geral de todas as actividades nacionais pelo systema quadrangular da reedificação da Baixa.—Secularisação do jesuitismo na pessôa do mesmo Marquez—A estatua de Sebastião e o monumento do Terreiro do Paço—Parallelo docavallo e do cavalleiro—Pede-se o esquecimento para um e uma charrua para o outro.


Asociedade portugueza n'este derradeiro quarteirão do seculo pode em rigor definir-se do seguinte modo:—Ajuntamento fortuito de quatro milhões d'egoismos explorando-se mutuamente e aborrecendo-se em commum.

Chamar patria á porção de territorio em que uma tal aggregação se encontra seria abusar reprehensivelmente do direito que cada um tem de ser metaphorico. O espaço circumscripto pelo cordão aduaneiro, dentro do qual sujeitos acompanhados das suas chapelleiras e dos seus embrulhos ou tomaram já assento ou furam aos cotovelões uns pelo meio dos outros para arranjar logar nas bancadas, pode-se chamar um omnibus—e é exactamente o que é—mas não se pode chamar uma patria. A patria não é o sitio em que nos colloca o acaso do nascimento, á mão direita ou á mão esquerda de um guarda da alfandega, mas sim o conjunto humano a que nos liga solidariamente a convicção de um pensamento e de um destino commum.

Já um sabio o disse: Ubi veritas ibi patria. A patria não é o solo, é a ideia.


Para que haja uma patria portugueza é preciso que exista uma ideia portugueza, vinculo da cohesão intellectual e da cohesão moral que constitue a nacionalidade de um povo.

Sabem dizer-nos se viram para ahi esta ideia?...

Nós temol-a procurado de aventura em aventura, de jornada em jornada, n'uma peregrinação de vinte annos atravez d'esta sociedade, como Ulysses, vagabundo atravez da Odyssea, em busca, do fumosinho tenue e amigo que adeje no horisonte por cima da primeira cabana d'Ithaca.

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